O 'designer' italiano Enzo Mari, nome pioneiro da 'Nuova Tendenza' da década de 1970, morreu hoje, em Milão, aos 88 anos, anunciou o presidente do Museu da Trienal milaneza, onde o artista é alvo duma retrospetiva da carreira.
"'Ciao', Enzo. Partes como um gigante", escreveu nas redes sociais do museu o arquiteto Stefano Boeri, diretor da Trienal de MilĂŁo. Mari encontrava-se internado hĂĄ dias no Hospital de San Raffaelle, na capital da Lombardia, noticiou a imprensa local.
Nascido em Cerano, na provĂncia de Novara, no Norte de ItĂĄlia, em 1932, Mari frequentou a Academia de Belas Artes de Brera, em MilĂŁo, e fez todo o seu percurso na cidade, assumindo-se, desde o inĂcio, como um "firme defensor" da predominĂąncia da expressĂŁo artĂstica do 'design', como 'desĂgnio' da matĂ©ria, como expressĂŁo de vida.
Marxista, opondo-se ao 'marketing' do mercado, e Ă submissĂŁo aos seus princĂpios, acreditava na funcionalidade definida pelos utilizadores dos prĂłprios objetos, que desafiava a montarem, no contexto da 'autoprogettazione' ('auto-projetação'), conceito que desenvolveu e que estĂĄ na base do manual que publicou em 1974.
Nesta obra, expÔe a importùncia dos materiais e do processo construtivo, retirando ao consumidor o caråter passivo, que passa a beneficiårio do objeto, do processo e da função que o define.
No documentĂĄrio "Homage to Autoprogettazione", da Artek, disponĂvel 'online', dedicado ao artista e ao seu percurso, Mari expĂ”e as preocupaçÔes deste seu conceito, que sĂŁo tambĂ©m as preocupaçÔes de uma vida dedicada Ă produção de mobiliĂĄrio, aplicando na atividade de 'designer' o conhecimento adquirido sobre aspetos funcionais e de carĂĄcter social.
"A questĂŁo da forma Ă© encontrar a sua prĂłpria essĂȘncia", diz Enso Mari, no documentĂĄrio.
Autor do célebre sofå-cama "Day Night" e das célebres cadeiras "Tonietta", "Sedia" e "Sof Sof", entre outros objetos chave da contemporaneidade, como a jarra "Camicia", o calendårio "Timor", o porta-folhas "Sumatra", o cesto de papéis "Inattesa" e o cinzeiro "Paros", Mari é comummente definido como "um dos 'designers' mais inovadores" da segunda metade do século XX.
Um dos seus primeiros projetos foi porém um 'puzzle' didåtico de madeira, para crianças, "16 animali", concebido em 1957, para o fabricante de mobiliårio Danese, de Milão.
Concebeu tambĂ©m livros infantis, em parceria com a companheira, Lela Mari, como "A Maçã e a Borboleta", "A Ărvore" e "O Ovo e a Galinha", que a antiga editora SĂĄ da Costa chegou a publicar em Portugal.
Vindos dos anos de 1960 e 1970, estes livros davam novas perspetivas à ilustração, permitindo leituras distintas, em função da idade e do grau de desenvolvimento da criança.
Mari foi professor na Universidade de Parma, na Academia de Carrara, no Politécnico de Milão e no Instituto Superior de Arquitetura de Florença, na Escola Superior de Belas Artes de Berlim e na Escola de Artes Aplicadas de Viena.
A sua obra estå representada em coleçÔes de museus como o de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), da Galeria Nacional de Arte Moderna de Roma, no Museu da Trienal de Milão.
Nos Ășltimos anos, Turim e Istambul dedicaram-lhe retrospetivas, depois de presenças constantes nas bienais de Veneza, de Zagreb e na Trienal de MilĂŁo.
Recebeu o Prémio Internacional de Desenho de Barcelona de 1997 e, por cinco vezes, o galardão måximo do 'design', o Compasso d'Oro, quer por peças que definiu, como a cadeira "Delfina" e a mesa "Legato", quer pelo trabalho de investigação que fez na årea do 'design'.
A Real Sociedade das Artes do Reino Unido (RSI) atribuiu-lhe o tĂtulo de "Honorary Royal Designer", em 2000, e a Faculdade de Arquitetura de MilĂŁo concedeu-lhe o doutoramento Honoris Causa.
Em 2011 esteve em Lisboa, para as conferĂȘncias da bienal experimenta design (Bienal EXD2011), onde expĂŽs os seus argumentos a favor do "Do It Yourself".
"Este 'designer' modernista italiano quebrou barreiras e promoveu a inovação no seu trabalho durante mais de 60 anos", escreve hoje a experimenta, na sua pĂĄgina no Facebook, definindo-o como "um verdadeiro visionĂĄrio, com uma enorme clareza de espĂrito, criatividade e irreverĂȘncia". "O seu legado perdurarĂĄ", garante a associação portuguesa.
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